quarta-feira, julho 30, 2008

quem sou eu?

pergunto -

ninguém responde



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terça-feira, julho 29, 2008

I

chove -

a casa do pardal

sem tecto



II

mesmo um haiku

pesa nos olhos

- vou dormir



III

o rosto velho

revelou três dentes

com um sorriso



IV

o grande girassol

voltado para baixo

- um chuveiro



V

por entre o verde

num branco solitário -

a flor de magnólia



.

domingo, julho 27, 2008

Rosas

para saudar a manhã

rosas cresceram

até à janela


.

sexta-feira, julho 25, 2008

Giesta

alguém se esqueceu

de guardar no bolso

esta giesta


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quarta-feira, julho 23, 2008

I

que pena:

olhar a flor e o sol

e não ver a flor e o sol



II

fonte da praça

entre as pombas

o banho da criança



III

o meu encontro

com

o teu encontro



IV

quantas rosas -

moldaram de sonhos

as minhas mãos?



V

tão grande o avião

e desapareceu

entre as nuvens



.

segunda-feira, julho 21, 2008

I

primeira neve -

o livro de Issa

nas minhas sandálias



II

lua cheia:

também as formingas

circundam a comida



III

sopra o vento -

que pena saber

para onde vou



IV

socorro -

uma a uma

mil formigas no quarto



V

também a borboleta

parou -

campo de alfazemas



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sexta-feira, julho 18, 2008

I

branco ou preto?

questiona a passadeira

o bêbedo



II

em breve

do trilho de ferro

só as eras



III

tarde de sol:

um livro de Issa

outro de Caeiro



IV

parece um monstro -

a sombra solitária

do mosquito



V

o orvalho da manhã

humedeceu também

a refeição das pombas



.

quarta-feira, julho 16, 2008

I

de repente -

era só um saco

o papagaio de papel



II

tão dura a estrada

a empurrar

flores para a berma



III

para te receber :

toda a noite

e toda pele



IV

em vão todos

os livros de históra -

desponta a giesta



V

aguaçeiro -

o canto das aves

de onde vem?



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segunda-feira, julho 14, 2008

I

quase nu

o santo de pedra dá

morada aos pardais



II

deitado na rocha

o sol passeia

a minha sombra



III

bate mais

as asas borboleta -

faz tanto calor!



IV

esvoaça -

a pomba não quer

o gato para brincar



V

branco, branco -

a acolher

o lilás da orquídea



.

sábado, julho 12, 2008

aos poetas de muitos passos

. a Eugénio de Andrade



toma a minha mão -

como frésias

ao acordar



. a Walt Whitman



quando chegaste

como lume

ao meu ventre?



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quarta-feira, julho 09, 2008

Diário de Haikus

I

esta vida:

é como um sopro

no dente-de-leão



II

homem cego pára -

para ele, a certeza do chão

é mais incerta



III

a luz do lampião

não chega a aquecer

os pés do sem-abrigo



IV

mesmo na noite escura

encontram-se

girassois



V

calor:

por baixo do carro

um gato dorme



VI

pelo estore

o vendedor de fruta

espreita a Prima-Vera



VII

haiku:

este piscar de olhos

num Verão



VIII

não lhes sei o nome

mas estas flores

são a minha companhia



IX

tão grande a lua

próxima ao meu

dedo indicador



X

ficaram mais ternos

os olhos da avó -

há lírios em flor



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domingo, julho 06, 2008

I

uma criança susurra

segredos ao dente-de-leão -

só o vento os sabe



II

o que me ficou

da madrugada

é sal na língua



III

quando eu partir

não deixes morrer

os miosotis



IV

já é dia -

nem um ruído ouvi

do banquete dos mosquitos



V

brisa -

o suficiente para

a dança das flores


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sexta-feira, julho 04, 2008

Orvalho



não posso esquecer

o gosto solitário

de Bashô



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imagem: estátua de Matsuo Basho (1644 - 1694)

quinta-feira, julho 03, 2008

Haiku e os dias

I

a laranja

ofereceu à manhã

o seu perfume



II

jovens amantes

a correr campo fora

sem uma sandália



III

nasce o dia -

tão íntimos

o sol e a manhã



IV

casa abandonada -

só os dentes-de-leão

para a guardar



V

antes de dormir

não encontrei a lua

só o haiku



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quarta-feira, julho 02, 2008

Estudos de Haiku

primeira lição:

Issa ainda

não parou de mijar



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terça-feira, julho 01, 2008

I

domingo:

quem virá

receber estas flores?



II

tic-tac, tic-tac:

tão brincalhão

nem sei se dá, se tira



III

noite de Verão -

todo o silêncio

é para as cigarras



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