segunda-feira, agosto 21, 2006

Vim entregar ao mar todas

as coisas não compreendidas,

porque sei que ele desconhece

a verdade como quem sorri.

Daterra

segredo II

Não me ensines como quem indica um caminho,

nem me fales das coisas que já sabes de cor e que

te fazem esquecer de tudo.

Não te preocupes quando muitas vezes achas que

estou errado, quando sinto o que sinto.

E que o meu coração possa experimentar de todos

os frutos que apanho e caem nos pés do meu caminho,

ainda sem os nomes que lhes inventaste.

Deixa-me ir onde nunca foram e dizes que não vá.

Quem sabe, inventar um novo alfabeto para que o

possas destruir. E nem sabes como isso é bom.

Deixa que abandone o que antes criei com esforço

para construir tudo de novo e descobrir a ilusão

do que se faz como quem brinca.

E se vens ao meu lado

e ao teu lado estou, que aprendamos o princípio

do amor sem as palavras que insistes em escrever até ao fim,

e assim,

viver.

Apenas.

Daterra

segredo I

Sento-me sobre as raízes desta árvore

e sinto que também nela há algo de mim,

como se dizer "nós" fosse já estranho.

Sento-me e penso em todos os poemas da vida.

De facto, os poemas são um bom refúgio para

mim que sou desajeitado com os certos e

os errados.

Se pudesse dizer o que sinto por momentos,

quando me esqueço de tudo o que me fizeram crer,

diria a todos que com tudo se faz amor, que em tudo

mora a mesma plenitude.

Se pudesse falar ainda um pouco mais, ainda diria que

mais vale a loucura aos dias contados, que a vida deve

ser bebida como se nunca antes provada.

E as coisas que por aí dizem os que sabem,

são apenas mentiras de brincar.

Ah

mas eu quero cantar a vida sem medo da loucura,

por isso sento-me sobre as raízes desta árvore e sei

que ela me fala dos segredos das coisas, como se num

sussurro, ensina-me a viver apenas.

Daterra


sexta-feira, agosto 11, 2006

Quero fazer os poemas das coisas materiais,
pois imagino que esses hão de ser
os poemas mais espirituais.
E farei os poemas do meu corpo
E do que há de mortal.
Pois acredito que eles me trarão
Os poemas da alma e da imortalidade.
E à raça humana eu digo:
-Não seja curiosa a respeito de Deus,
pois eu sou curioso sobre todas as coisas
e não sou curioso a respeito de Deus.
Não há palavra capaz de dizer
Quanto eu me sinto em paz
Perante Deus e a morte.
Escuto e vejo Deus em todos os objectos,
Embora de Deus mesmo eu não entenda
Nem um pouquinho...
Ora, quem acha que um milagre é alguma coisa demais?
Por mim, de nada sei que não sejam milagres...
Cada momento de luz ou de treva
É para mim um milagre,
Milagre cada polegada cúbica de espaço,
Cada metro quadrado de superfície
Da terra está cheio de milagres
E cada pedaço do seu interior
Está apinhado de milagres.
O mar é para mim um milagre sem fim:
Os peixes nadando, as pedras,
O movimento das ondas,
Os navios que vão com homens dentro
- existirão milagres mais estranhos?

Walt Whitmann

quarta-feira, agosto 09, 2006

uma pausa pela vida





aldeia bio-regional na amazónia . www.abra144.org

nas mãos da vida . . .

segunda-feira, agosto 07, 2006

revelação

olho à minha volta na certeza do que sou.

as folhas das árvores a mexerem-se comigo.

caem sem hesitações.

o rio segue eternamente o seu percurso sem que o saiba.

e eu!?

ah, eu também…

como são reveladores estes momentos.

os cheiros das flores mostram-me um pouco mais de mim.

como tenho a certeza de mim sem que seja nada por certo.

e existo a cada momento.

desconheço o princípio e fim daquilo que sou.

será que o tenho?

ah, mas eu vejo cada instante e sinto que me tenho enganado

sobre as coisas da vida.

e as folhas das árvores a mexerem-se com o vento!

como posso dizê-lo !?

a cada instante a minha revelação.

e sinto que me tenho enganado quando penso e tento compreender

as coisas juntando-lhe outras coisas!

como posso dizê-lo!?

sou eternamente.

e poderia não ser?

os homens têm falado muito e sentido pouco.

não me posso encontrar porque não estou perdido.

têm falado muito e sentido pouco.

oh, mas encontrar não, porque não me sei mentir.

e sei que tudo vai continuar enquanto se procura.

oh, a verdade é uma mentira.

Daterra