sexta-feira, setembro 29, 2006

Yoga com todos



O projecto Yoga com todos é uma iniciativa que pretende fazer
convergir pessoas de todas as idades interessadas pela prática do
Yoga e pelo convívio com a natureza. Trata-se de proporcionar
encontros didácticos e amistosos a todos os presentes, convivendo
num espírito de abertura e compreensão, respeitando as diversas
posturas que cada um possa assumir no seu íntimo perante esta
filosofia milenar, ou fora dela. Procuramos acima de tudo a partilha
e a cooperação entre todos.

Propomos que estes encontros se realizem numa primeira fase, durante
as manhãs do 2º domingo de cada mês, agora, numa sala mais ampla do
que a que normalmente estamos habituados a praticar
na natureza.
Esta é uma forma de, para além de integrar pessoas, permitir um
contacto mais próximo com os campos, praias, matas (e outros que
poderão sugerir) da nossa região.

A nossa sugestão é que a pessoa a orientar as aulas vá também
mudando, para que todos possamos aprender com a diversidade.

Estes encontros incluem um pic-nic que se realizará com uma
contribuição alimentar feita por todos os participantes. Para que
não haja excesso de um género alimentar, pedimos que entrem em
contacto connosco de forma a podermos organizar o que cada um leva.

Os locais escolhidos serão mencionados com antecedência, tal como a
hora (que à partida será às 10h00 no local escolhido) seja via e-mail ou

cartaz. Agradece-se que a informação seja partilhada e
enviada entre os vossos contactos para que todos possam participar.

Aguardamos as vossas propostas relativamente a possíveis locais e
temas a serem desenvolvidos, bem como a disponibilidade de cada um
para orientar as aulas e/ou participar.

Sem mais a acrescentar, despeço-me esperando uma resposta vossa
sobre a realização desta iniciativa, até dia 30 de Setembro, para
que possamos organizar o nosso 1º Encontro do
Yoga com todos , já no
próximo dia 8 de Outubro.

1º Encontro:
8 de Outubro às 10h00 . Quinta da Conceição – Leça da Palmeira


Lécio Ferreira


Para mais informações:

Lécio Ferreira 919 544 578
E-mail: sintonias@iol.pt

Organização: Sintonias

quinta-feira, setembro 21, 2006

na vida com Caeiro...



Guardador de Rebanhos - Poema V


Há metafísica bastante em não pensar em nada.

O que penso eu do mundo?
Sei lá o que penso do mundo!
Se eu adoecesse pensaria nisso.

Que ideias tenho eu das cousas?
Que opinião tenho sobre as causas e os efeitos?
Que tenho eu meditado sobre Deus e a alma
E sobre a criação do mundo?

Não sei. Para mim pensar nisso é fechar os olhos
E não pensar. É correr as cortinas
Da minha janela (mas ela não tem cortinas)

O mistério das cousas? Sei lá o que é o mistério!
O único mistério é haver quem pense no mistério.
Quem está ao sol e fecha os olhos,
Começa a não saber o que é o sol
E a pensar muitas cousas cheias de calor.
Mas abre os olhos e vê o sol,
E já não pode pensar em nada,
Porque a luz do sol vale mais que os pensamentos
De todos os filósofos e de todos os poetas.
A luz do sol não sabe o que faz
E por isso não erra e é comum e boa.

Metafísica? Que metafísica têm aquelas árvores?
A de serem verdes e copadas e de terem ramos
E a de dar fruto na sua hora, o que não nos faz pensar,
A nós, que não sabemos dar por elas,
Mas que melhor metafísica que a delas,
Que é a de não saber para que vivem
Nem saber que o não sabem?

"Constituição íntima das cousas"...
"Sentido íntimo do Universo"...
Tudo isto é falso, tudo isto não quer dizer nada.
É incrível que se possa pensar em cousas dessas.
É como pensar em razões e fins
Quando o começo da manhã está raiando, e pelos lados das árvores
Um vago ouro lustroso vai perdendo a escuridão.

Pensar no sentido íntimo das cousas
É acrescentado, como pensar na saúde
Ou levar um copo à água das fontes.

O único sentido íntimo das cousas
É elas não terem sentido íntimo nenhum.

Não acredito em Deus porque nunca o vi.
Se ele quisesse que eu acreditasse nele,
Sem dúvida que viria falar comigo
E entraria pela minha porta dentro
Dizendo-me, Aqui estou!

(Isto é talvez ridículo aos ouvidos
De quem, por não saber o que é olhar para as cousas,
Não compreende quem fala delas
Com o modo de falar que reparar nelas ensina.)

Mas se Deus é as flores e as árvores
E os montes e sol e o luar,
Então acredito nele,
Então acredito nele a toda a hora,
E a minha vida é toda uma oração e uma missa,
E uma comunhão com os olhos e pelos ouvidos.

Mas se Deus é as árvores e as flores
E os montes e o luar e o sol,
Para que lhe chamo eu Deus?
Chamo-lhe flores e árvores e montes e sol e luar;
Porque, se ele se fez, para eu o ver,
Sol e luar e flores e montes,
Se ele me aparece como sendo árvores e montes
e luar e sol e flores,
É que ele quer que eu o conheça
Como árvores e montes e flores e luar e sol.

E por isso eu obedeço-lhe,
(Que mais sei eu de Deus que Deus de si próprio?),
Obedeço-lhe a viver, espontaneamente,
Como quem abre os lhos e vê,
E chamo-lhe luar e sol e flores e árvores e montes,
E amo-o sem pensar nele,
E penso-o vendo e ouvindo,
E ando com ele a toda a hora.


Alberto Caeiro

terça-feira, setembro 19, 2006

identificação com a água



viver apenas...

domingo, setembro 17, 2006

despertar




- para que insistes nessa vaga permanência da individualidade?

desperta, para que te possas conhecer.

- para que insistes nessa vaga construção dos dias e das horas?

como um fluxo contínuo, assim és a natureza.

- e qual o principio e o fim do fluxo?

mas,

a repetição é inexistente.

- quantos castelos de palavras obstruem a tua visão agora?

...

Daterra

quarta-feira, setembro 13, 2006

estórias com asas



depois de uma longa viagem entre os tectos
das casas e as ruas da cidade,
o passáro azul voltou até à proximidade do seu pai,
que repousava sobre os galhos de uma imensa árvore.
o pequeno pássaro havia voltado triste com a paisagem
que encontrou e tímido, pergutou ao pai:

- porque é que as pessoas não querem falar comigo?

o pai, sábio, levou a sua asa envolvendo o filho e
falou-lhe num tom suave:

- porque as pessoas vivem como se viver fosse uma obrigação.

Daterra

sexta-feira, setembro 08, 2006

a camioneta do tio zé



às nove horas em ponto lá estava,

todos já sabiam.

corriam apressados com as sacolas nas mãos

e o sol a escorreres-lhes pelos rostos alegres.

outros esperavam já em frente ao imenso carvalho

onde era o ponto de encontro.

entravam pela porta da frente da pequena camioneta,

quase velha,

não fosse isso passar despercebido.

engoliam alguns poucos degraus e espalhavam-se em sorrisos

e cantigas pelos assentos com estórias de encantar.

seguiam rumo à escola da manhã, como lhe chamavam

alguns.

ainda guardo as palavras da joana e da marisa,

que sem querer me ensinavam coisas que já não sabia.

os abraços do antónio e a atenção do andré.

e como havia tanto a aprender nos gestos perdidos

que por vezes o meu olhar abrangia!

haviamos esquecido a escola das paredes fechadas

e eu estava imerso na aprendizagem de todas as horas.

a escola estava logo à entrada do dia, no sorriso do tio Zé

e na sua camioneta apaixonada, estava nos beijos e abraços

da manhã e até nos cadernos que não vieram e ficaram em casa.

nesta escola, tínhamos esquecido a escola.

e às nove da manhã, a cada dia que passava,

lá estavam todos sem saber ainda que o amor é um bom professor

e que a camioneta do tio Zé nunca deixaria de ser escola.


Daterra (por uma pedagogia do amor)