a camioneta do tio zé
às nove horas em ponto lá estava,
todos já sabiam.
corriam apressados com as sacolas nas mãos
e o sol a escorreres-lhes pelos rostos alegres.
outros esperavam já em frente ao imenso carvalho
onde era o ponto de encontro.
entravam pela porta da frente da pequena camioneta,
quase velha,
não fosse isso passar despercebido.
engoliam alguns poucos degraus e espalhavam-se em sorrisos
e cantigas pelos assentos com estórias de encantar.
seguiam rumo à escola da manhã, como lhe chamavam
alguns.
ainda guardo as palavras da joana e da marisa,
que sem querer me ensinavam coisas que já não sabia.
os abraços do antónio e a atenção do andré.
e como havia tanto a aprender nos gestos perdidos
que por vezes o meu olhar abrangia!
haviamos esquecido a escola das paredes fechadas
e eu estava imerso na aprendizagem de todas as horas.
a escola estava logo à entrada do dia, no sorriso do tio Zé
e na sua camioneta apaixonada, estava nos beijos e abraços
da manhã e até nos cadernos que não vieram e ficaram em casa.
nesta escola, tínhamos esquecido a escola.
e às nove da manhã, a cada dia que passava,
lá estavam todos sem saber ainda que o amor é um bom professor
e que a camioneta do tio Zé nunca deixaria de ser escola.
Daterra (por uma pedagogia do amor)
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