sábado, julho 29, 2006

um lugar de imagens


lindo, não é?

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Às vezes gosto de ficar a olhar para as coisas sem me preocupar com o que as coisas são. É uma forma de não ficar grande demais.

Daterra

desaprender

Tendemos a achar que as coisas importantes são complexas e isso gera em nós um grande problema. Dessa forma, não compreendemos a importância das coisas simples, como estar aqui.

Daterra

Silêncio de uma semente

No início, era o silêncio de uma semente.
Então, pela força da natureza, abri os olhos e vi:
vi um espaço de formas vibrantes, fui uma testemunha dos três tempos,
onde chamava por mim. Quem sou eu?

Segui com a necessidade de andar, construí um caminho, talvez vários!
Tornei-me prisioneiro por minha vontade.

Como uma criança, experimentei o que os meus sentidos traziam até mim,
e como ela, vivi os sonhos do mundo, feitos de céus azuis e abismos temerosos,
feitos de tudo e de nada.

Quanto mais caminhava, maior era a necessidade de me explicar.
Procurei nos livros, nas escrituras de todos os tempos.
Procurei em ti, que me ouves agora e, ainda assim, tudo parecia pouco.
Caminhei. Caminhei até à exaustão…

Cansado … fechei os olhos e vi …
Deixei as lutas e as conquistas.
A necessidade de encontrar.
Deixei o caminho e o caminhar.

Aceitei a minha divindade,
que no início, era o silêncio de uma semente.

Daterra



Não cobiço nem disputo os teus olhos
não estou sequer à espera que me deixes ver através dos teus olhos
nem sei tão pouco se quero ver o que vêem e do modo como vêem os teus olhos
Nada do que possas ver me levará a ver e a pensar contigo
se eu não for capaz de aprender a ver pelos meus olhos e a pensar comigo
Não me digas como se caminha e por onde é o caminho
deixa-me simplesmente acompanhar-te quando eu quiser
Se o caminho dos teus passos estiver iluminado
pela mais cintilante das estrelas que espreitam as noites e os dias
mesmo que tu me percas e eu te perca
algures na caminhada certamente nos reencontraremos
Não me expliques como deverei ser
quando um dia as circunstâncias quiserem que eu me encontre
no espaço e no tempo de condições que tu entendes e dominas
Semeia-te como és e oferece-te simplesmente à colheita de todas as horas
Não me prendas as mãos
não faças delas instrumento dócil de inspirações que ainda não vivi
Deixa-me arriscar o molde talvez incerto
deixa-me arriscar o barro talvez impróprio
na oficina onde ganham forma e paixão
todos os sonhos que antecipam o futuro
E não me obrigues a ler os livros que ainda não adivinhei
nem queiras que eu saiba o que ainda não sou capaz de interrogar
Protege-me das incursões obrigatórias que sufocam o prazer da descoberta
e com o silêncio (intimamente sábio) das tuas palavras e dos teus gestos
ajuda-me serenamente a ler e a escrever a minha própria vida.

Ademar Ferreira dos Santos